WHAT' S IN YOUR CLOSET # 46 Rosa Pomar (retrosaria.rosapomar.com)



Ela faz parte da minha wishlist de entrevistas desde sempre. Desde que a descobri na Internet e percebi que trabalhava em casa (na altura), a fazer o que gostava e o que quase ninguém fazia na altura: os chamados crafts. Artesanato, trabalho manual, com base nas tradições portuguesas, para falar em bom português. Rosa Pomar criou entretanto uma loja, a Retrosaria, e o conceito ganhou espaço físico na rua do Loreto, em Lisboa, onde a artista (acho que é assim que lhe posso chamar) também dá formação sobre o que sabe e o que vai aprendendo. 

Nesta entrevista onde desvenda o Closet, a Rosa demorou a responder e depois percebi o motivo: fartou-se de enviar links sobre todas as marcas e artigos e peças e ícones que menciona (e vale a pena clicar em todos). Ela foi, também, a primeira entrevistada do CLOSET a admitir claramente que quis ser como alguém quando era mais nova: aos 11 anos, Rosa Pomar queria ser a Madonna no Papa don't preach

De resto, a Rosa veste e calça coisas que quase mais ninguém tem, porque as vai buscar onde ninguém pensaria ir. Basta ver as botas alentejanas, as socas de Baltar e os magníficos sapatos de Almeirim que conjuga com peças contemporâneas, algumas (muitas) feitas pela própria. Uma artista, lá está, que ainda por cima não tem receio de dizer que, se tivesse mil euros, comprava mais um par de calças de ganga (e lã para tricotar, claro). E de defender que já estava na altura de se maquilhar (eu não sei, Rosa, acho-te bonita assim). 

Top feito pela Rosa Pomar com tecido antigo e molde Wiksten



Sapatos feitos à mão em Almeirim


1. Qual é o primeiro momento do dia em que pensas na roupa que vais vestir?
Aquele entre sair da cama e entrar no duche.

2. Preocupas-te com isso ou vestes a primeira coisa que te aparecer à frente?
Em geral depende sobretudo do tempo que está lá fora e do que estiver lavado e pronto a vestir.

3. Qual a tua principal preocupação estética antes de sair de casa? Não sair maquilhada ou ter a certeza de que não te esqueceste de nenhuma peça de roupa fundamental?
Vou ter frio ou calor? É melhor levar qualquer coisa para pôr à volta do pescoço? Lembrei-me de pentear o cabelo?

4. Preocupas-te em aplicar cremes, maquilhar-te, pintar as unhas, arranjar o cabelo, etc? 
Há quase um ano que não uso nada na pele (cara incluída) a não ser Prunus Dulcis, o nome pomposo de uma coisa que se vende em qualquer supermercado: óleo de amêndoas doces. Sem perfumes e sem ingredientes mistério. Recomendo vivamente. As únicas excepções são dias em que sei que vou ser fotografada para algum artigo na imprensa: nesses aplico um mínimo de maquilhagem. No cabelo nem sei como usar mais do que champô (uso um sólido da Lush que dura meses) e amaciador. Secador só mesmo se estiver muito frio na rua. Quanto às unhas preciso delas como sempre foram porque as mãos são a minha ferramenta de trabalho, seria impensável usá-las de outra maneira.

5. Qual é o teu estilo?
Ter poucas coisas mas só coisas de que gosto muito e que sei que vão durar muitos anos. Andar day in day out com as mesmas botas, ter um par de meias feitas por mim para cada dia da semana. Não comprar de todo na Zara, H&M nem nas outras do mesmo género. Gostava de encontrar jeans feitos em Portugal que me assentassem como os da Diesel (sim, as calças de ganga da Diesel são a minha grande incoerência de estimação). 
O meu estilo, pensando nas coisas que gosto e que não gosto de usar, é um cruzamento idiossincrático de referências a que à falta de um nome decente se podem chamar étnicas (tais de Timor, casacos da Guatemala, xailes da Serra de Montemuro ou coletes de Fair Isle ou dos pastores da Serra da Estrela) em cima de uma espécie de farda meio andrógina (botas, calças elásticas, uma boa camisa e um pulover de lã). E sem nada que me impeça de andar (eu até gostava de saber usar saltos, mas prefiro poder fazer a pé todos os meus percursos diários). Aqui, com imagens, é capaz de se perceber melhor.

6. Como é o teu armário? Cheio, arrumado, desarrumado, caótico?
Arrumado e pequeno.

7. Quais as peças/artigos que tens em maior número? Sapatos, vestidos, camisolas?
Sem contar com a roupa interior? Blusas/camisas de algodão.

8. Como é que escolhes/compras a tua roupa?
Compro quase sempre por necessidade, mas demoro a escolher. E olho sempre para a etiqueta: não gosto de usar fibras sintéticas nem peças fabricadas na China.

9. Encomendas roupa online?
Ocasionalmente. Tenho três peças de uma marca que acho que faz coisas muito bonitas, a IOU e que só vende online. E compraria esta camisa, que por acaso até foi manufacturada em Portugal, se não tivesse já camisas que cheguem... Também tenho um top da Annie Larson de que gosto muito. Online como offline, o que importa é saber o que se está a comprar.

Top feito pela Rosa, saia IOU e socas feitas à mão em Baltar
10. Qual a tua loja preferida?
A Retrosaria, claro ;) Loja de roupa? Não é raro as peças que me apetece vestir serem as das colecções dos museus etnográficos, como estes botins do Museu Etnográfico de Serpa, mas há uma marca que me ocorre sempre apesar de não ter nada de lá, chama-se Kapital  e é japonesa. Se puder dizer que a minha loja preferida são as minhas mãos é a resposta que fica.

Botas do Museu de Serpa




11. Qual a tua peça de roupa preferida? - neste momento e de toda a tua vida (algum artigo que tenhas amado perdidamente e que morreu de velho)
Não é fácil dizer. Talvez uma camisola que fiz com lã fiada à mão em Mértola e que usei até se desfazer, ao fim de mais de dez anos de uso intenso.

12. Qual a pessoa (conhecida ou não) cujo visual "invejas"? Gostavas de ser como quem?
Felizmente não invejo o visual de ninguém, mas acho que poucas mulheres tiveram a mesma pinta da Patti Smith nos anos 70. A não ser talvez a PJ Harvey.

13. Já houve alguma altura da tua vida em que querias vestir-te como alguém? Quem?
Aos onze anos acho que queria ser a Madonna no Papa don't preach. Aliás uma das peças de roupa da minha vida acho que foi uma marinière [camisola às riscas ao estilo marinheiro] autêntica que me ofereceram nessa altura.

14. Alguma vez saíste de casa sem sapatos, com uma meia de cada cor, com a camisola do avesso ou outro episódio semelhante? Qual?
Nem por isso, mas tenho uma criança em casa que só não o faz regularmente se alguém passar em revista para que lado estão viradas as etiquetas das golas.

15. O que trazes vestido neste momento?
A minha farda habitual (botas alentejanas, meias feitas por mim, calças elásticas e uma blusa) com um colete que terminei há pouco tempo e que adoro

Colete feito pela Rosa Pomar com base num modelo japonês com motivos de Fair Isle

Botas alentejanas


16. Se hoje tivesse sido um dia perfeito, com tempo para tudo o que precisas, o que terias vestido?
Exatamente o mesmo.

17. O que achas que devias eliminar do teu guarda-roupa de uma vez por todas?
Tudo o que não usei no último ano, o que deve ser quase nada ou mesmo nada de todo.

18. O que devias vestir mais vezes, mas não vestes?
Saias. É muito difícil encontrar saias de que goste.

Haramaki feito pela Rosa com motivos de mantas alentejanas

19. Neste preciso momento tens 1000 euros na mão para gastar só em ti. O que fazes com esse dinheiro?
Se tivesse mesmo de o estourar em roupa comprava mais um par de calças de ganga porque me faz falta, lã para tricotar um casaco com que ando a sonhar há meses e acho que o resto ia todo para roupa interior daquela mesmo muito boa.

20. Se tivesses de dar um conselho de estilo a ti própria, qual seria?
Já estava na altura de aprenderes a usar maquilhagem, não?

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