Muitas brancas, apesar da idade


Não estou velha, não me sinto velha, nunca aliás me senti tão bem comigo própria, mas a verdade tem de ser dita: a dada altura a idade faz-se notar e sentir. Ando enfiada numas meias de compressão por causa das varizes e das pernas cansadas e, já para não falar das dores nas costas, tenho uma valente mecha de cabelo completamente branca. Ela já lá anda há uns tempos valentes, mas bastante discreta - tenho a sorte de estar coberta por cabelos pretos, por enquanto foi sempre possível disfarçá-la. Até que decidi cortar a franja. Disseram-me que pareço a Louise Brooks, atriz de cinema mudo, e a franja realmente está mais ou menos assim, como a da Louise na fotografia, o cabelo é que está mais comprido. 

Até ficou giro, o corte. Mas como a franja foi feita com pouco cabelo, não fosse eu arrepender-me (truques, lá está, com a idade e com as asneiras aprende-se a ter cautelas e a conhecermo-nos ao ponto de saber que o que parece uma excelente ideia se pode tornar num pesadelo), são poucos os bocados de cabelo que tenho na franja em cima da tal mecha cheia de brancas. 

Já tentei tirá-las e já tirei umas poucas. Mas cheguei a uma parte em que é absolutamente impossível arrancar aquilo tudo. Não tenho medo de que me nasçam sete por cada branca que tire. Nunca tive. E nunca me apercebi que tivessem aparecido mais por ter decidido arrancá-las Mas levaria uma eternidade a tirar aquelas brancas todas, uma a uma, e falta-me tempo e paciência. A idade não perdoa. Por isso, depois da franja, virá o banho de cor. Não é por medo da velhice, que estou longe disso e cada ano que passa só me tem deixado a sentir melhor. É só porque não gosto. 

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